quinta-feira, 29 de julho de 2010

Juventude e coração

Ultimamente sinto algo
inexplicável, ou melhor,
não que não possa explicar,
é que justamente a explicação
nesse momento me é falha.
O poder e dom,
a sabedoria da lógica
a lógica me falta
O que explico, ou desabafo
é a saudade pasmem:de mim!
Tenho saudade de como era
de como tudo se fazia simples
e heróico em minha mente.
Tenho saudade de como amava a história
de como amava o cheiro dos meus livros
e de como consegui descolar todas suas páginas.
Gostava da história dos homens
das mulheres, das crianças,
gostava das histórias fantásticas,
mas para mim nada mais fantástico
do que as histórias reais.
Gostava da história do poder e daquela história
ou histórias dos que eram como eu
e não viram sua história acontecer.
Tenho saudade da minha paixão
das minhas convicções
da minha fase marxista,
da minha fase antipositivista,
das discussões
intermináveis
de escola, de faculdade.
Longas caminhadas na madrugada
na rua deserta, sem medo.
Saudade do vento gelado que cortava o pensamento
avisando que a esquina chegara e era hora de ir
Tantas discussões! Tanta teoria!
Poderiam causar guerras de tão tensas e
repletas de profundidade.
Mas, se desfacelavam com o vento,
não completamente, pois no outro dia
haja rua, haja ouvido, haja mente.
Tenho saudade da pessoa crítica
que queria mudar o mundo,
que não se apegava a coisas fúteis,
pessoas fúteis, sentimentos sentimentalistas
Aquela pessoas que assistia o jornal
e não contente buscava outros jornais
e não contente buscava livros
e não contente perguntava
e não contente, escrevia.
Tenho saudade daquela que lamentava
não ser parte de cada época
que cobrava de si o futuro,
que cobrava dos outros o passado.
Da que nunca joga lixo na rua (e ainda o faço)
da que chorou quando votou pela primeira vez.
Tenho saudade do meu ceticismo teimoso
que só existia na esperança do certo acontecer
Saudade de citar Bertold Brecht
de citar Rousseau, Paulo Freire,
e mesmo Maquiavel, Durkheim...
Saudade de quando a poesia não me fazia
chorar, mas pensar.
De quando me apaixonei pela educação
e pela mágica de ensinar
sem jamais deixar de aprender.
Quem sabe assim pudesse mover
as montanhas que tanto sonhei?
Saudade das redações intermináveis
da minha fome em escrever.
Escrever de forma rude e inteligente
escrever não só o pensamento vil
mas a reflexão...
Hoje sinto-me tão... fútil
o pensar é trabalhoso, sou como tantos
todos aqueles que encontro, que vejo
Embriagados de inércia, engessados
Pena, gessos não são tão fortes quanto parecem.
Em que lugar que eu me esqueci?
Não movo nada mais que grãos de areia,
falta-me força e o deserto é cada vez maior.
Penso se não sou mais heróica,
afinal, hoje o que me ocorre é a realidade
e ela é tão mais dura do que a que eu podia ver
nos livros, nos jornais, nas minhas teorias das teorias...
Aquele futuro cobrado de mim
e por mim, chegou finalmente
e o que fazer com o presente?
E mesmo caminhando insistentemente
sinto saudade como sinto sede
Saudade é sede de busca.
Busco encontrar parte do que sou
no passado do que era.

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